quarta-feira, 3 de setembro de 2008

"ATÉ QUE PONTO OS PAIS SÃO PAIS?!"

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6 comentários:

Arnaldo Romano disse...

Há 15 anos, em uma das cidades onde trabalhei,dedicava pedaço do meu dia a pessoas terminais.
Minha consciência, mesmo passado tanto tempo, ainda me cobra respostas. A mais angustiante delas é: "Eu teria sido últil àquelas almas em sofrimento profundo?" Penso que, inútil, apenas ajudei prolongar a dor.
E adiar, por instantes, o irreversível.
É questão ética.Que me atormentará até o click fatal.
Bom, mas foi nessa época que me convidaram para "ficar um pouquinho, só um pouquinho", com um grupo de crianças com a Síndrome de Down.
"-Mas eu não entendo nada..."
"-É só um pouquinho, o Senhor gostará."
"-Gente, não entendo nad....."
"-O Senhor entenderá, rapidinho. Queremos o Senhor lá, hoje, à tarde."
"-Peraí, tenho compromis..."
"-Hoje, às 3 da tarde."
Não era um convite: Era uma intimação!
Às três, pontualmente, entrei no salão.
Foi um silêncio.
Um silêncio eloqüente.
A garotada toda olhando pra mim como seu tivesse acabado de chegar de Marte, Santo Antônio do Jacinto... sei lá de onde.
Foram chegando, aproximando-se, mais e mais.
Até que. como num estouro, começaram a rir, a ter expressão de intensa alegria e a me tocar. Tocar e me apontando os dedinhos.
Aí é que compreendí a coisa:
-Eu estava de terno completo, gravata, sapatos brilhando e.... por cima, um indefectível colete.
Isso, numa temperatura de 35º.
Sem exigir, mas exigindo, tive que ficar joelhos.
Primeiro, me tiraram o paletó.
O colete, sumiu em dois minutos.
A gravata, penso que foi a melhor brincadeira que tiveram nos últimos tempos.
Os sapatos impecáveis, só faltaram ser transformados em sanduíche.
De um momento pro outro, aquela garotada,da forma mais espontânea, promovia o milagre de eu ser aquilo que sempre gostaria de ter sido: -Um homem quase pelado, livre os artifícios e convenções sociais.
Pois foi nessa quase nudez, com platéia de pais, mães,professoras,
tias, madrinhas, vizinhas, amigas, palpiteiras etc etc etc, que descobri a maior e mais pura forma de amor, até então desconhecida.
Foi muito carinho. Muita ternura. Muita bondade.
Lambuzavam-me de beijos. Todos queriam subir.
Todos queriam montar neste velho cavalo. Minhas orelhas eram rédeas.
Meu nariz, buzina. E eu tinha de buzinar.
Eles riam. Morriam de rir. Rolavam de tanto rir.
Que felicidade para eles.
Que felicidade para mim.
Aí, aí a coisa desandou: -Não eram as professoras que me convidavam.
Eu é que me ofereci para, à minha maneira jeca, participar da vida
dessa molecada abençoada.
E assim foi.
Com pouquíssimo, já sabia da altíssima sensibilidade desses garotos.
Já percebia uma inteligência espetacular em cada um.
Uma vocação de ser últil, de ajudar que, aqui fora, entre os ditos "normais", jamais presenciei igual.
E a Ética/Moral desses meninos, gente?
Peraí!!! Eles nos ensinam como ninguém conseguiu nos ensinar.
Eles nos entregam, inocente e conscientemente, seus corações.
Como são ternos!
Como transmitem energia!
Como são tolerantes para conosco!
Como nos amam!
Nossa despedida, poucos meses depois, foi entre lágrimas.
E as lágrimas, teimosas, ainda frequentam meios olhos.
Tomo a liberdade de me dirigir aos pais:
Senhores pais, amem seus filhos.
Com intensidade e despreendimento, amem.
Nada de misercórdia, piedade carma, infortúnio, destino...
Nada disso!
São inteligentíssimos. Têm acurada perspectica ética. Uma acentuada
noção do "certo e do errado".
São honestos ao extremo.
São carinhos, ternos, meigos.
Não fazem chantagem e estão sempre prontos a se doarem.
Amem seus filhos.
Com um amor inteiro.
Incondicional.
Aprendam com eles.
E deixem que eles façam vocês felizes.
Beijo, com amor, a cada um dos seus filhos, agasalhando-os com minha melhor afeição.
Energia!

Arnaldo Romano.

Anônimo disse...

Tenho um filho com a Síndrome de Down e sei exatamente do amor e do carinho que eles são capazes de nos doar. Ao contrário de muitas pessoas que se dizem pseudo-normais, eles tem uma sensibilidade única que os fazem ser diferentes, mas não por serem pessoas especiais, mas sim pela força e pela luta de nos mostrar que são tão normais como qualquer ser humano, através de suas atitudes.
Você foi muito feliz no tema. Poucos conseguem ousar como você.
Parabéns! Virei sua fã e sempre passarei aqui para lhe deixar o meu "oi". Beijos minha querida!

Marlene Dantas.

Vivian disse...

...Sandra minha linda, há mais de trinta anos milito entre estes anjos especiais, não só como psicóloga, mas tbm como admiradora deste mundo lindo em que eles vivem...utopia querer entender estas almas ímpares que passam por aqui não para serem vistas como coitadinhas, retardadas como cansamos de ouvir, e sim para nos trazer lições e mais lições de como um espírito pode se proteger destas mazelas do viver...são seres especiais sim...mas especiais no quesito humanidade, entendem de lonnnnge sinais que aos nossos olhos se tornam impossíveis, sabem demonstrar amor nas coisas mais simples, são éticos, são puros, sinceros, e amigos acima de tudo...e entre todas estas qualidades, existe uma que me encanta de verdade, é a liberdade de só fazer o que lhes interessa, o que lhe vai fazer bem, o que eles sabem que irão precisar no longo da vida...isso eu chamo de lucidez...o que os diferencia de nós, os "normais", que somos manipulados desde o primeiro vagido...ficaria aqui vidas e vidas falando contigo sobre isso...mas acho que me fiz entender em poucas letras...belo post! parabéns! muahhhhhhh

anderson eduardo disse...

Até o ponto em que nao haja mais respeito, cumplicidade, carinho, fraternidade, compaixao, amor,,,,,
nao seiote responder direito, acho que esse é o caminho.

Anônimo disse...

Deus costuma usar a solidão
Para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva para que possamos compreender o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar
sobre a responsabilidade do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço, para que possamos compreender o valor do despertar.
Outras vezes usa a doença, quando quer nos mostrar a importância da saúde.
Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar a andar sobre a água.
Às vezes, usa a terra, para que possamos compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da vida.
Beijos amiga, um ótimo dia, te love you!

Celia Trevisan.

Anônimo disse...

Até que ponto Pais são Pais?
Nosso Pai Eterno é Deus, porém Ele nomeia nossos pais carnais que nos dão a oportunidade de vir a este mundo para nossa reeducação moral.
Deste ato de fé e coragem, surge o sentimento mais aproximado do amor de Deus, que é o que sentimos e qque conhecemos, que é o amore dos Pais pelos seus filhos.
Como o amor é infinito e evolutivo, cada vez mais filhos e pais se apaixonam. Então....PAIS SÃO PAIS SEMPRE
E o mais bonito disto tudo é a prova que o verdadeiro PAI É DEUS, pois que adotamos filhos e os amamos como se os tivessem gerado.
Laura

Laura (Bi@)